Uma troca de exames levou a que um homem de Mirandela tenha sido submetido a tratamentos dolorosos e a uma intervenção cirúrgica, após lhe ter sido diagnosticado um cancro na próstata, que afinal nunca teve.
O caso aconteceu há sete anos, mas só agora vai a julgamento no Tribunal Administrativo de Mirandela. A vítima pede uma indemnização de 205 mil euros a um laboratório, ao hospital de Mirandela e ao Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto.
Em Outubro de 2005, Manuel (na altura com 68 anos), a pedido do serviço de urologia da unidade de Mirandela, do então Centro Hospitalar do Nordeste (CHNE), foi submetido a um exame (biopsia prostática).
Alguns dias depois, o Laboratório de Anatomia Patológica (Hicislab), do Porto, enviou o resultado que revelava que o utente tinha uma doença vulgarmente conhecida como cancro da próstata. O urologista do hospital de Mirandela comunicou o resultado ao doente que "ficou de rastos, angustiado e assolado pelo trauma de perigo de perda da vida inerente a estas revelações", pode ler-se no despacho do TAFM.
Posteriormente, o IPO, "baseando-se apenas nos dados clínicos que lhe foram fornecidos pelo CHNE e pelo laboratório, submeteu o utente a tratamentos médicos, entre Janeiro e Junho de 2006.
A meio dos tratamentos, no dia 21 de Março de 2006, uma equipa médica do hospital de Mirandela decidiu avançar para uma intervenção cirúrgica à vítima. Três dias depois, foi solicitado um novo exame à próstata do paciente que revelou a inexistência de qualquer sinal de cancro.
A acompanhar este segundo exame, o médico a exercer funções no laboratório elaborou um relatório revelando que, "ao rever a leitura do primeiro", verificou que tinha havido uma troca de exames com um homem de 88 anos. Esta informação foi dada a conhecer, um mês depois da operação.
Em resultado destes tratamentos, a vítima, para além do peso psicológico que esta situação implicou, sofreu alterações físicas, nomeadamente impotência sexual com a qual se deparou e que se arrasta até agora.
Em consequência de tudo isto, a vítima teve ainda que se sujeitar a um tratamento psiquiátrico, recorrendo aos serviços do Hospital Psiquiátrico de Bragança, mantendo ainda hoje (com 75 anos) esse acompanhamento.
O IPO revela que o utente não fez qualquer tratamento de radioterapia, mas antes de hormonoterapia, por período de curta duração que "provoca disfunção eréctil durante o tratamento e tempo de acção dos mesmos e após a cessação do tratamento tal efeito é reversível".
Quanto à necessidade da realização de novos exames para confirmar tão grave doença, o IPO entende que "não corresponde aos procedimentos gerais adoptados por este nem qualquer instituição hospitalar, porque a biopsia constitui uma sujeição dolorosa assinalável e importa perigos vários, em casos extremos, riscos de vida". Já o CHNE diz que, no dia da operação, o utente apresentava "retenção urinária", pelo que a intervenção cirúrgica traduziu-se em "desobstruir a bexiga".
Ainda segundo o CHNE, a operação teve como causa principal "o volume prostático" e não cancro da próstata e garante que "não provoca qualquer impotência sexual".
Escrito por Rádio Terra Quente (CIR)
[Fonte: Rádio Onda Livre]
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